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A prece

Por mais que algumas tímidas chamas de esperanças, vez por outra, nos assanhem as vontades passageiras, a dura realidade da escola da vida maior nos reclama calma, pede paciência e serenidade na condução dos atos cotidianos, da vida humana planetária, que passa por um longo e delicado momento de reflexão. Como é do saber evangélico, nada passou pela humanidade, sem que Jesus tenha feito uma observação educativa. Assim sendo, para os momentos e tempos de aflições, nos recomenda o Mestre de Nazaré: “Vinde vós mesmos para um lugar ermo, em particular, e descansai um pouco! Pois eram muitos os que vinham e saíam, e nem para comer encontravam tempo oportuno”.

Por mais estranho que nos possa parecer, Jesus indaga aqueles que se avolumam nas estradas terrestres, indo de um lado para outro em busca de satisfações imediatistas sem encontrarem tempo para a educação espiritual. Por isso, o Cristo de Deus convida os discípulos a procurarem um lugar à parte, e encontrando-o, que repousem sua mente e seu coração na prece, cada vez mais importante.

A sociedade avançou em muitas técnicas, legislações, e nunca vimos tantas igrejas a nos fartar com vastas manifestações religiosas. E o ser humano, que sempre busca materializar as lições divinas, buscou os ermos das montanhas, o abandono das regiões desérticas, o esconderijo dos mosteiros, os templos de pedras, crendo verdadeiramente, por algum tempo, ser este o local recomendado pelo Cristo. Assim agindo, vamos vendo em um grande número aqueles que se precipitam no radicalismo religioso, no materialismo combatente, no isolacionismo tido como santificado, outros se excedem no descanso meditativo, e muitos vão encontrando, a cada passo, um motivo de fuga às exigências das leis de progresso a serem cumpridas. Por todos esses recantos, encontramos vagas menções ao Senhor, isto porque o “lugar à parte” não é o campo físico, teológico ou geográfico. Jesus refere-se ao infinito campo do coração humano, onde repousaremos em Sua companhia, em infindável preparação de serviço ao Reino de Deus que nos convoca a servir na cidade ou no campo, no verão ou no inverno, na paz ou na guerra. Por essa justa necessidade do serviço interminável e do aprendizado constante, recomenda o Mestre que descansemos um pouco, e não indeterminadamente.

O caminho que nos leva ao “lugar à parte” descortina-se, em nosso espírito, através da prece. Não como pensamos, não como ensinam tradicionalmente: a prece qual algo miraculoso e mágico. A prece por si só não modifica as leis imutáveis do Universo ou nossos destinos. Ela nos proporciona através do nosso empenho em melhorarmos, socorros e luzes, fornecendo energias do mais alto, suavizando a execução das tarefas diárias. A oração espontânea e fervorosa, acompanhada de atitudes no bem, abre as portas da alma, permitindo que irradiações curativas penetrem por todo o ser, vivificando-o em seus amplos aspectos.

Aí, nesse embate de luz interior, neste lugar à parte do nosso coração, encontramos e vivemos cada dia mais intensamente ao lado do Mestre Jesus, nosso Amigo Maior.

Por Iriê Salomão de Campos, Comunidade Espírita “A Casa do Caminho” – ‘Tribuna Livre’ Publicado no espaço quinzenal cedido pelo Jornal Tribuna de Minas, 11 de setembro de 2020, Juiz de Fora, MG.

19 de janeiro de 2021 por: A Casa do Caminho