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Um passo adiante

Passamos, nestes dias, das raias da afronta moral para o caminho da imoralidade pública. A corrupção tão comum nos meios políticos avançou para afronta e violência à dignidade do cidadão brasileiro, como se este não existisse. Os agentes públicos agem sem se dar conta de que escutamos, vemos e pensamos. O escândalo estratosférico das chamadas autoridades nacionais chegou ao ponto de permitir ao ex-ministro da Justiça (assim mesmo com minúscula) dizer: julgamento moral, deixo para a majestosa vingança de Deus. Tais palavras foram ditas na explicação quanto à defesa de seu cliente, um contraventor. Lavro aqui apenas duas perguntas ao referido advogado. Primeira: como um estudioso das leis, que acredito ele ser, como pode não crer na moral? Segunda: sua ideia de um Deus vingativo não está muito aquém do que se espera de um homem de cultura, não é um tanto medieval ou bárbara?

Em sentido oposto ao que se possa pensar, os absurdos públicos ou domésticos não devem nos causar revolta nem apatia. Nós, estudantes dos ensinamentos de Jesus na atividade comum do caminho, não devemos focar nas vantagens observáveis no imediatismo da experiência. Não é aconselhável, para a nossa felicidade, dar mais ênfase à prosperidade material a ponto de sufocar com apões as leis morais. O escândalo é necessário, mas, ai daquele por quem o escândalo vier! Esse, momentaneamente, desprezado ensinamento de Jesus, chama a atenção para a responsabilidade individual de cada um de nós, frente à Lei de Causa e Efeito, explicada por Alan Kardec.

Todas as vezes que alguém se refere aos ensinamentos de Deus, brota uma multidão de questionadores, exigentes do testemunho das verdades anunciadas ou orgulhosamente alegando não haver ligação entre as coisas do mundo e as lições do Cristo, ou seja, religião. Ora! Se um mineral é reconhecido por seu fulgor e utilidade, a árvore, por seus frutos, o ar, pelo frescor reconfortante, a água pelas notícias das entranhas da terra, sendo que nada disso é criação do homem, que sinais maiores queremos da presença de Deus? As mesmas medidas reflexivas valem para nós. O tolo se conhece pelas infantilidades corriqueiras, o sábio revela-se pela prudência, o bruto, pela primazia da força, e o malandro, na manipulação da lei em seu favor.

Houve um dia no qual a multidão dirigiu-se ao Salvador, perguntando que sinal fazes tu para que o vejamos, e creiamos em ti? (João, 6:30). Se ao Cristo foi dirigida tão indigna interrogativa, a nós então… Jesus, em sua infinita sabedoria, soluciona essa indagação: Deixa que os mortos enterrem os seus mortos, e tu vai e anuncia o Reino de Deus (Lucas, 9: 59-60).

A instrução é imprescindível ao conhecimento, mas é a educação que gera o discernimento. A cultura intelectual pode nos levar a crer ser o amor tão somente querer e ter, podendo desfigurar impensadamente os mais belos quadros da vida. Se o homem dá um passo adiante, irrigando o intelectual com o aprimoramento moral, ele se eleva ao sublime, permitindo conhecer a justiça eterna, além de emocionalmente aproximar-se de Deus, Deus-Pai, justo, amoroso e bom.

Por Iriê Salomão de Campos, Comunidade Espírita “A Casa do Caminho” – ‘Artigo do Dia’ Publicado no espaço quinzenal cedido pelo Jornal Tribuna de Minas, 02 de junho de 2012, Juiz de Fora – MG.

15 de setembro de 2020 por: A Casa do Caminho