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Heroísmo oculto

Nossa história pessoal e coletiva é repleta de heroísmos, pessoas intrépidas ofereceram a própria vida para salvar as de outros. Quantos tombaram nos campos de batalhas na defesa da coletividade, da honra, da liberdade e da justiça? Outros tantos sofreram o desencarne inesperado, cumprindo a missionária vocação em louvor da ciência, na busca das curas para as dores da humanidade. Pessoas que por dias a fio se esquecem de si mesmas, do conforto, do repouso e da glória pessoal, ocupando-se exclusivamente a solucionar a questão do transporte seguro, da poluição generalizada, da reciclagem de lixo, das diversas maneiras para o desenvolvimento e da aplicação da Inteligência Artificial, que a cada dia está mais presente, mesmo que ainda não saibamos o quanto nos influencia.

Reverenciemos àqueles que, a despeito de cor, sexo e nacionalidade, dedicaram-se ao extremo em favor de todos. Esses souberam fazer verdade as palavras do Cristo: “Se alguém quer vir após mim, negue a si mesmo, tome sua cruz a cada dia, e siga-me” Lucas 9: 32. Siga-me, diz o Mestre de Nazaré, o que não significa fazer idolatria em redor dos intermediários das religiões humanas que não podem substituir Jesus. Por isso, faz-se necessário seguirmos o Cristo, e não o cristão, pois nenhum deles possui a santidade absoluta, a sublimação completa e a disciplina inabalável.

O convite do Senhor não deixa dúvidas. Se há intenção íntima de encontrar a felicidade, devemos renunciar sem medo às migalhas da vida aparente, suportar sem conformismo, mas corajosamente as consequências dos atos de ontem e de hoje. Para conseguir semelhante realização e penetrar profundamente no significado dos ensinos superiores, é necessário romper os delicados fios que nos atam aos vícios de personalidade, corrigindo nós mesmos ao mesmo instante que devemos abandonar o hábito de censurar o nosso próximo. Se há proposta de renovação pessoal, é determinante deixar que o outro, no exercício de seu livre-arbítrio, renove-se livremente no momento que lhe convier. Aí está o grande ato heroico, o heroísmo oculto ou anônimo.

Heroísmo dos que sabem viver sem o protagonismo das grandes façanhas perante à morte ou à evolução científica. Mas são capazes de percorrer cada metro, centímetro por centímetro da estrada mundana, cumprindo o estreito círculo das obrigações pessoais, a despeito dos mais variados empecilhos e provações, trabalhando no altar íntimo do próprio coração a sua cruz, que lhe pesa nos ombros de modo intransferível.

Herói oculto e silencioso que, a cada momento de relevância evolutiva, se lembra que o Cristo não o aguarda para ofertar o mel, o vinho do paraíso da inércia. O Mestre de Nazaré espera, sim, o herói silencioso, para abraçá-lo oculto no silêncio da fidelidade, por cumprir os deveres ensinados por Ele, que é o Caminho, a Verdade e a Vida.

Iriê Salomão de Campos, Comunidade Espírita “A Casa do Caminho” – ‘Tribuna Livre’ Publicado no espaço quinzenal cedido pelo Jornal Tribuna de Minas, 03 de fevereiro de 2018, Juiz de Fora, MG.

4 de fevereiro de 2020 por: A Casa do Caminho