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Filhos de Deus

Ao sair de casa nas primeiras horas de cada dia, deparamo-nos com alguns recortes de natureza que o crescimento desordenado ainda permite que vejamos. Um retalho do Morro do Imperador, as árvores no costado do Bairro Granbery, outras poucas no Grama. Pessoas correndo em seus carros luxuosos deparam-se com um engarrafamento; não é a quantidade de veículo, e sim uma carroça que troteia pela avenida. Contradições inerentes do ser humano, criatura que vagueia pelas estradas e ruas de cada cidade deste país, fazendo escolhas e tomando atitudes a bel prazer no puro atendimento de seus interesses mesquinhos ou nobres; em geral a primeira opção é a mais cotada. Satisfeita a necessidade de outra, surgem mais um passo e novo ímpeto e novas artimanhas no deleite pessoal. Caminha assim a humanidade, dedicando-se com esmero na transformação do mundo em um vale de sombras. E no tempo certo e infalível da colheita, degustaremos os resultados da própria semeadura, se de sabor amargo do fel, sem titubear, exclamaremos:… Por que, Deus, isso acontece comigo, eu, justo eu que sempre fui bom. Nunca matei, nem roubei! Sempre cumpri minhas obrigações com a religião, e agora isso!

Não diga que Deus leva uma pessoa a torturas. Como quase tudo na sociedade humana, este dogma das penas eternas, atribuídas ao Criador é originário das teologias terrenas, de certa forma, compondo uma dicotomia. O homem imperfeito, vivendo na sublime paragem terrena, defronta-se com as criações estruturadas por ele mesmo.

Cercado pelo belíssimo oceano, um grupo de amadores resolve construir um grande barco para juntos desfrutarem as águas azuis daquela baía. Sem escolha devida, cortaram árvores e tábuas, obedecendo à imaginação do desejo. Deram forma e lançaram o barco ao mar, com todos dentro. Festivos, singraram ondas e correntes. Sol, água fria e céu azul embalando a divertida aventura. Até que as primeiras gotas começaram a vazar por entre a madeira rapidamente alagando a embarcação pondo seus ocupantes em desatinados gritos de Deus nos socorra.

Amanhã, ao sair de casa, não sejamos aventureiros lançando de qualquer jeito o barco no mar da vida, e, quando algum sinistro vier ao nosso encontro, de modo doloroso e inevitável, que seja este assunto de avaliado e cuidadoso estudo, para que os novos barcos entrem no oceano com maior nível de segurança.

É inútil que ilustres dignitários deste ou daquele seguimento religioso se pintem à moda da perfeição, entoando maldições divinas, bajulando uns e condenando outros.

Deus é amor, amor é também perdão. Amor e perdão que se expandem do infinito átomo ao mais profundo do universo. Deus é justiça. Justiça que concede outra oportunidade a cada dia para recomeçarmos a jornada nos reconhecendo como filhos de Deus, crendo em seus ensinamentos e vivendo como quem Nele crê.

Por Iriê Salomão de Campos, Comunidade Espírita “A Casa do Caminho” – ‘Artigo do Dia’ Publicado no espaço quinzenal cedido pelo Jornal Tribuna de Minas, 03 de dezembro de 2011, Juiz de Fora – MG.

14 de julho de 2020 por: A Casa do Caminho