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Como vai?

No simples gesto de saudação, perguntei ao amigo passante: como vai? Freou os passos e, de súbito, desandou a relatar como ia. Queixou-se da vida a quase esgotar meus tímpanos, nada estava como devia, ladainhava. Seus lábios espumavam na fala descontrolada, denunciou a presidente da República, o síndico do prédio, nem a própria esposa escapou à saraivada de impropérios. De minha parte, ouvia sem me deixar envolver por tanta irritação, não me impressionando com o que dizia, afinal, tudo é passageiro, não tem tanta importância, são fatos externos, verdade mesmo é tudo que trazemos em nosso íntimo, aí sim devemos guardar seriedade. No mais, tudo passa.

Despedi-me com cautela, preocupado em não ser mais um cravo em sua cruz, como denomina a esposa. Caminhei pensando naquele sofredor, pessoa, como tantas outras, massacrada pela vida desesperançada, contaminada pelo germe corroente da rotina. Vivem como se fossem obrigadas pela força do hábito, trilham as ruas e as emoções feito máquinas que se ligam e desligam. Liga, acorda, desliga, dorme. E nós, também portadores de muitos defeitos ou, como dizem, poucas qualidades, contribuímos com o desânimo das pessoas na medida em que aumentamos a carga de lamentações queixando-nos da própria vida. Descarregamos naquele já enfraquecido colega todas as nossas vibrações de infelicidade. No popular, lavamos a alma… Este é um comportamento materialista típico das pessoas desconhecedoras das Verdades Divinas.

O referido amigo, obsediado por seus aborrecimentos, esqueceu-se de sua filiação divina, esqueceu-se do próprio corpo como fruto de suas crenças, um moto-contínuo expandindo e assimilando energias através dos sentidos que constituem nosso corpo, possibilitando-nos o contato com o mundo. Assim, temos a visão, a audição, o tato e a vasta rede no processo da inteligência que diz respeito à palavra, através da qual nos comunicamos e impressionamos o mundo a nossa volta. Logo, não somos qualquer coisa, e a vida não é um circo trágico; se temos dificuldades, também temos com fartura o lado bom. Nós é que não nos treinamos para viver em contentamento. Se temos uma tarefa rotineira, por que não executá-la com as emoções renovadas, como fazem os artistas. Sofrem nos ensaios e estudos para o esplendor no palco. Mesmo que as aparências sejam contrárias, confiemos mais em Deus. Deus não está no templo, mais nesta religião do que na outra, Deus não prefere este ou aquele por ser intelectual, doutor ou por vestimentas. Deus está dentro de nós, somos todos filhos do mesmo Pai. Se enxergamos nossa filiação torna-se mais fácil compreender por que tantas pessoas em grave situação de problemas, mas vivendo a vida como fruto da bondade de Deus, conseguem encontrar forças, alegrias e entusiasmo. O verdadeiro cristão é reconhecido pelo esforço que faz na melhoria de si mesmo. E assim conseguimos rotineiramente empregar nossas energias saudáveis na plantação do carinho, do bem-estar e, com um pouco mais de empenho, até mesmo contagiamos com amor e carinho os corações daqueles que nos cercam a vida.

Por Iriê Salomão de Campos, Comunidade Espírita “A Casa do Caminho” – ‘Artigo do Dia’ Publicado no espaço quinzenal cedido pelo Jornal Tribuna de Minas, 24 de setembro de 2011, Juiz de Fora – MG.

16 de junho de 2020 por: A Casa do Caminho